[03] Otsuka Yoko e John King

Acordei com uma greta de luz atrapalhando meu sono, não tinha certeza do que eu odiava mais: A cortina, o sol da manhã ou eu que não lembro de fecha-la direito quando vou dormir. Provavelmente o sol da manhã. Levantei e olhei no relógio lateral a cama, já passara das 9:30, e ficar ali parada não me levaria a lugar algum, não que eu tivesse um dia planejado, mas certamente, manter-se sem planos não levaria a nada.
Nem precisei chegar na cozinha, foi pisar no corredor que senti o cheiro longínquo de panquecas no ar.
- John, pare com isso já! - Gritei, mas não fui respondida.
O silêncio foi a resposta do meu grito, mas era óbvio, o menino já havia saído para a escola a tempos, o sono deve ter me deixado com o raciocínio lento. Continuei o caminho - mas antes fazendo uma parada no banheiro -, vi o café da manhã posto e não poderia fazer nada além de comer, não jogaria aquilo fora e nem tenho como obrigar o garoto a enfiar aquilo tudo na boca, não que eu faria isso se pudesse. Sentei-me e comi, antes mesmo de me arrumar para fazer algo produtivo, ao invés disso fiquei mastigando e pensando nas minhas falas para o esporro que daria no garoto. Por outro lado, também me veio a cabeça que eu poderia acordar mais cedo para evitar isso. Quem sabe outro dia? Agora já era tarde demais para isso. Falando em tarde, terei um maldito acordo de terras com os Yakusa, e para piorar, eles estão em maior número e a mais tempo no local, eu não tenho muita opção a não ser me ferrar. Droga. E o pior, o que falarei para meus parceiros? Que cedi parte das terras para eles sem lutar? Provável que me matem, mas eu teria que avisar de alguma forma.
Suspirei, tentei me acalmar e olhei para a paisagem da janela, dei de cara com o Memorial Choshinsei, era tão bonito que parecia nem ser referência de uma cidade destruída. Bufei e segui ao banheiro, poderia ir lá fora relaxar, mas é bem melhor eu resolver problemas antes, não vejo muito sentido me acalmar para estressar novamente, resolverei tudo para depois tentar deixar as coisas boas novamente.

Já no banheiro, escovei os dentes e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, depois em um pulo estava no quarto, peguei meu celular que estava no criado-mudo - do lado do relógio - e comecei a discar números da agenda.

Permaneci ocupada ligando para meus contatos, explicando tudo que tinha que explicar e esclarecendo dúvidas - as que eu sabia esclarecer, as outras apenas ignorava -. Fiz uma boa escolha, com o tempo que aquilo tudo demorou, uma caminhada certamente me atrasaria e muito, já estava na hora de me arrumar. Corri para o banheiro, tomei um banho rápido, coloquei uma roupa já separada em meu armário e fui, tinha pressa. Corri para fora do apartamento e escolhi o elevador errado, aparentemente, o que me custou 6 minutos de espera no escuro e parada. Sentei no chão, já estressada, e esperei o tempo que fosse preciso para ele voltar a funcionar, no desespero cheguei a soltar um "por que isso só acontece comigo?", mas quando tudo passou, me acalmei.
Assim que cheguei a portaria o homem responsável pelo local me veio com o mistério do elevador, eu não tinha muito tempo para pensar sobre aquilo, então apenas a respondi para ser educada:
- Que estranho, deve ter sobrecarregado por algum motivo -sinceramente, não me importava muito com o que tinha acontecido.
Eu já estava próxima a saída quando lembrei do amigo que pretendia ir comigo, mas que droga, eu não teria tempo de esperá-lo e nem sei se poderia levar alguém comigo, tudo bem, seria bom companhia, mas de moto, sozinha, eu poderia cortar as estradas muito mais rápido, vou me virar mesmo, depois eu explico para ele a situação, ele não deve ficar aborrecido comigo. Segui ao estacionamento.

Desci correndo as escadas - já que não podia contar com mais nenhum elevador, e nem com a sorte de teleportar - e fui atrás da minha moto, o problema, é que ao chegar nela, vi um garoto - ou deveria ser - bem estranho me encarando, parecia um desses esquisitos, Nerds, que se vestem como desenho animado. Suspirei, era só o que me faltava, o que esse menino queria comigo? É comum eu ser observada por homens, mas isso é um pirralho provavelmente, se fosse alguém comum, eu ignoraria e pensaria que estivesse olhando para meu corpo curvilíneo, mas não, esse cara era estranho demais. Encarei-o de volta, já do lado da minha moto, não pretendia gastar tanto tempo assim.
- O que que foi? - perguntei de maneira direta.

O que diabos é isso? Eu sempre achei que esses malucos usassem fantasias, mas não tão tecnológicas assim, uma luz cegante na mão era realmente algo criativo, será que ele estava treinando para algum concurso? Que seja, até ai eu conseguia achar alguma lógica, mas no acontecimento seguinte, não! As luzes começaram a piscar sem parar, isso me fazia pensar que era aquele garoto que havia brincado com meu elevador, mas como? Um barulho forte chamou também minha atenção, uma mancha estranha - que parecia ainda quente - apareceu no chão, atrás da minha moto, um cheiro de encrenca enchia meu psicológico. Medo - algo incomum para mim - me tomou, pulei na moto e tentei da partida, pretendia fugir daquele doido e daquele lugar a qualquer custo, com a maior velocidade que conseguisse alcançar. Por que não fui com a carona? Malditos sejam os Deuses que gostam só de me ferrar.